quinta-feira, 30 de julho de 2009

Copérnico: O 112º elemento



O elemento de número 112, o unúmbio, da tabela periódica poderá receber um nome muito melhor do que o atual digno de 2009: copernicum (Cp). Digno, vou dizer aqui por duas razões óbvias (ou não):
Primeiro porque 2009 é o Ano Internacional da Astronomia, então nada mais justo que fazer esta devida homenagem a esse campo da ciência; Segundo pela importância da Teoria Heliocêntrica do Sistema Solar, que diz que o Sol está PERTO do centro do universo, que diz que a Terra possui 3 movimentos: rotação diária, volta anual, e inclinação anual de seu eixo. O que pode explicar muita coisa, por exemplo, as estações do ano, que por sua vez podem ser cruciais para quem vive da agricultura ou para um país onde a agricultura é a base de sua economia.
                                          
Bom, unúmbio foi descoberto em 1996 por um grupo de cientistas chefiado por Armbruster no Heavy Ion Research Laboratory (G.S.I.) em Darmstadt na Alemanha produzido através da reação nuclear entre o chumbo 208 e o zinco 70 em um acelerador linear de partículas. Atualmente a IUPAC usa a nomenclatura provisória para o elemento 112 chamando-o de unúmbio (Uub). Maaaaas!! Eis que um pesquisador (Sigurd Hofmann) e sua equipe da mesma instituição (o G.S.I) propuseram o nome do astrônomo Copérnico na tabela. E a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) deixou claras as condições para se propor um nome a um novo elemento químico num artigo de 2002 que diz:

Um procedimento é proposto para nomear novos elementos... os descobridores são convidados a propor um nome e um símbolo para a Divisão de Química Inorgânica da IUPAC. O Elemento pode ser nomeado dando referência a um conceito mitológico, um mineral, um lugar ou país, uma propriedade ou um cientista. Após análise e aceitação pela Divisão de Química Inorgânica, a proposta segue para o conselho da IUPAC para obter sua aprovação”.

A IUPAC agora levará um período de seis meses para discussão para eliminar potenciais confusões, pois a sigla Cp já foi utilizada como sinônimo do fragmento de ciclopentadieno C5H5.
Agora só nos resta torcer para que ele seja aprovado, pois eu, em meu ensino de química preferiria mil vezes me lembrar de copérnico do que unúmbio.

[ATUALIZADO] 
Antes tarde do que nunca!
Finalmente o elemento 112 já não leva mais o nome do número (un um bio ~ “um um dois”). As adoráveis tabelas periódicas do seu colégio ou da sua faculdade certamente já estão com o nome do ilustre Copérnico no local de homenagem. A aceitação do nome do elemento pela IUPAC foi aprovada e publicada em um artigo em fevereiro de 2010. 

Para aqueles um pouco mais atenciosos, parece que a ideia agradou muito e outros elementos já estão (ou estavam) com nomes que homenageiam outros cientistas também. Ficou curioso? Lá vão alguns!

- Rutherfordium (Rf): elemento 104, em homenagem ao físico e químico Ernest Rutherford (1871-1937).
- Bohrium (Bh): elemento 107, em homenagem ao físico Niels Henrick David Bohr ou Niels Bohr (1895-1962).
- Roentgenium (Rg): elemento 111, em homenagem ao físico Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923).
- Einsteinium (Es): elemento 99, em homenagem ao físico Albert Einstein (:P) (1879-1955).
- Fermium (Fm): elemento 100, em homenagem ao físico Enrico Fermi (1901-1954).
- Mendelevium (Mv): elemento 101, em homenagem ao químico e físico Dmitri Ivanovic Mendeleiev (1834-1907).
- Nobelium (No): elemento 102, em homenagem ao químico e inventor Alfred Nobel (1833-1896).
- Lawrencium (Lr): elemento 103, em homenagem ao físico Ernest Orlando Lawrence (1901-1958).

A próxima pergunta a ser feita é: o que cada um deles fez para receber essa grandiosa homenagem?



Referências:
- Pure Appl. Chem., 2002, Vol. 74, No. 5, pp. 787-791
Nature, 23 jul 2009, vol. 460, p. 449.
Imagens:
- Concepção artística do elemento unúmbio. Autora da imagem: Carol L. Myers;
- Casa de Nicolau Copérnico em Torun, Polônia. Fotografia de Stephen McCluskey em 01/04/2005.
Referências da atualização: 
- TATSUMI, Kazuyuki; CORISH, John. Name and symbol of the element with atomic number 112 (IUPAC -Recommendations 2010). Pure and Applied Chemistry, v. 82, n. 3, p. 753-755, 2010.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Jornada de História da Ciência e Ensino

O Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência e o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da PUCSP convidam para a II Jornada de História da Ciência e Ensino: propostas, tendências e construção de interfaces.

Contribuições da história da ciência na educação tem sido bastante valorizadas, como expressam as Orientações Curriculares para o Ensino Médio e as Diretrizes curriculares para o Ensino Superior. Com isso, propostas de interação entre essas duas áreas, pautadas em diferentes correntes pedagógicas e em algumas perspectivas historiográficas, tem sido apresentadas tanto no exterior como em nosso país.

Entretanto, as possibilidades de construção de interfaces entre história da ciência e ensino apenas começaram a ser delineadas. Acreditamos que um caminho para explorar essas possibilidades em profundidade seria estreitar o diálogo entre educadores e historiadores da ciência. Assim, pensando num primeiro momento desse diálogo, surgiu a proposta das Jornadas de História da Ciência e Ensino, agora em sua segunda edição. Mais um momento para professores, educadores, historiadores da ciência, estudantes de graduação e de pós-graduação apresentarem suas propostas de trabalho, suas reflexões, as atividades que estão desenvolvendo em sala de aula, e também as dificuldades e inseguranças que enfrentam.

Dessa forma, esta Jornada também foi estruturada de modo a propiciar um amplo espaço de discussão de tendências e propostas, de troca de experiências, para contribuir na construção de interfaces entre história da ciência e ensino. Ao mesmo tempo, com os mini-cursos ministrados por especialistas em história da ciência, procuramos responder a uma constante solicitação dos professores.

Mais informações.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tragédia, comédia e conhecimento: o Teatro e a Ciência!

Há alguns dias percebi que meia hora de internet, quando bem utilizada, é surpreendente, descobrimos coisas fantásticas e ainda podemos compartilhar com o público leitor. Pois bem, encontrei uma matéira na Nature* que falava sobre a comemoração do Ano Internacional da Astronomia, uma peça de teatro que trata da relação que existia entre Galileu e o Papa Urbano VIII, achei fantástica a idéia de um grupo de teatro abordar a ciência, é um modo diferente de se conhecer a mesma, sem contar que tudo que envolve teatro é demais. O lado ruim da notícia é que a peça está em cartaz nos EUA, então, num diálogo com os colegas de faculdade alguém me disse: “pena que no Brasil não temos dessas coisas”. Foi aí que lembrei - o que nunca deveria ter esquecido – do Grupo de Teatro Arte e Ciência no Palco. Presenciei pelo menos 3 espetáculos deles e repeti a dose com a peça “After Darwin”.

Os atores são sensacionais, as peças muito instigantes e divertidas e sempre trazendo muita informação e / ou conhecimento.

Foi então que a Ana, a Alcione e este que vos escreve decidiram entrevistar o grupo ACP e quem respondeu pelo grupo foi Oswaldo Mendes, um dos integrantes do mesmo. Confira aí:

HdC - Quando surgiu o grupo?

OSWALDO MENDES – A semente do grupo Arte Ciência no Palco é o espetáculo “Einstein”, de 1998, que até hoje o ator Carlos Palma interpreta pelo Brasil afora. Ator formado pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, Carlos Palma encontrou em “Einstein” o caminho para a sua volta, em definitivo e com dedicação total, ao teatro. Um ano depois da estréia em São Paulo, o espetáculo fez uma breve temporada na Casa da Ciência, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O encontro com o físico Ildeu de Castro foi o empurrão que faltava para o nascimento de um grupo de teatro voltado para a montagem de peças que tivessem as chamadas ciências naturais como tema. Foi de Ildeu a sugestão para Palma e Adriana Caruí (Produtora do ACP) irem atrás de uma peça que acabara de estrear em Londres, com grande sucesso: “Copenhagen”, de Michael Frayn. Já com o objetivo de tornar realidade o Arte Ciência no Palco, eles compraram os direitos da peça para o Brasil, em 2000. Foi ai que eu, também ator formado pela mesma Escola de Arte Dramática e durante muitos anos dividido entre o jornalismo e o teatro, conheci o então recém nascido grupo. Convidado para interpretar Niels Bohr, primeiro eu me assustei, com a complexidade da peça e do personagem. Mas movido pela intuição – e como dizem físicos do porte de Einstein e Mário Schenberg a intuição às vezes é mais importante que o raciocínio – eu aceitei o desafio de “Copenhagen”. E estou no Arte Ciência no Palco desde 2001. Vale lembrar que entre “Einstein” e “Copenhagen”, Palma e Adriana fizeram também o primeiro espetáculo infantil do grupo, “Da Vinci, Pintando o Sete”. Depois, mais cinco espetáculos, um por ano: “Perdida, uma Comédia Quântica” de Jose Sanchis Sinisterra, “Quebrando Códigos” do inglês Hugh Witemore sobre o matemático Alan Turing, “E agora, sr. Feynman?” de Peter Parnell sobre o físico Richard Feynman e o infantil “20.000 Léguas Submarinas... Ufa!” e “A Dança do Universo” para comemorar o Ano Mundial da Física, pelos 100 Anos da Relatividade, e o centenário da morte de Júlio Verne.

HdC – Qual o objetivo do projeto?

OSWALDO MENDES – O nosso objetivo é fazer teatro. Ponto final. A opção por textos com temas, digamos, científicos tem a ver as nossas necessidades de artistas e de cidadãos deste mundo em que as questões da ciência e da tecnologia ganham importância e urgência cada vez mais graves... Então nós acreditamos que mergulhar na vida e nas idéias desses personagens é uma maneira de trazer estas questões para o cotidiano das pessoas. São personagens que nos ajudam não só a entender o mundo em que vivemos, mas principalmente a pensar sobre ele, refletir sobre as questões que envolvem o conhecimento humano.

HdC – Qual o público-alvo?

OSWALDO MENDES – Por ambição artística nós diríamos que o público-alvo é todo o público, todas as pessoas que compartilham as nossas inquietações com o destino do ser humano neste planeta, neste universo em que vivemos. São as pessoas que buscam no teatro esse local de reflexão a que Brecht se referia. Ou pessoas que, como diz Michael Frayn, autor de “Copenhagen”, que gostem de ser desafiadas em seus corações e, principalmente, em suas mentes. E ai não há distinção etária nem de graus de instrução ou de formação. Tomando o nosso espetáculo “Copenhagen” como referência, ele já foi apresentado com igual êxito para platéias da comunidade cientifica e para alunos da rede pública de segundo grau.

HdC – Fale um pouco sobre “A Dança do Universo”.

OSWALDO MENDES – “A Dança do Universo” nasceu inspirada pelo livro do físico Marcelo Gleiser. Foi só inspiração porque o livro de Gleiser tem um caráter didático, seria impossível pensar em uma adaptação. Mas ele me deu o mote e a direção para que eu mergulhasse nessa maravilhosa aventura humana, o longo caminho da ignorância até o conhecimento, e o embate permanente entre essas duas forças. Nesse mergulho eu me detive na vida e nas idéias de alguns personagens que nos ajudam a entender melhor o mundo em que vivemos. E usando o teatro, a música e o humor como ferramentas, baguncei um pouco a história, indo do brasileiro Mário Schenberg ao inglês Isaac Newton e criando cenas em que, por exemplo, coloco frente a frente Kepler e Galileu ou Charles Chaplin e Albert Einstein.

HdC – Em quais estados vocês se apresentaram?

OSWALDO MENDES – Além de várias cidades do interior de São Paulo estão no nosso roteiro desde o Rio Grande do Sul ao Acre, passando por Rio de Janeiro, Paraná, Brasília, Ceará, enfim, a agenda é muito variada, felizmente. O Arte Ciência no Palco tem, no momento, cinco peças em seu repertório, com as quais viaja atendendo a convites: “Einstein”, “After Darwin”, “Copenhagen”, “E agora, sr. Feynman?” e “A Dança do Universo”.

HdC – Vocês trabalham com textos próprios?

OSWALDO MENDES – Esta é uma preocupação permanente, porque tirando alguns clássicos sempre citados, como “A Vida de Galileu” de Brecht e “Os Físicos” de Dürrenmatt, não existem muitos textos de teatro que tratem das questões da ciência. Acho até que o sucesso mundial de “Copenhagen” tenha despertado nos autores a possibilidade de trabalhar esses temas. Foi essa necessidade de textos próprios que nos levou a escrever “A Dança do Universo”, “20.000 Léguas Submarinas... Ufa!” e, anteriormente, “Da Vinci, Pintando o Sete”. Mas estamos vendo uma tendência crescente no mundo todo por uma dramaturgia voltada para esses temas.

HdC – É fácil conseguir patrocínio?

OSWALDO MENDES – A pergunta seria engraçada se não fosse trágica. Não, não é fácil. Primeiro porque a cultura do patrocínio ao teatro no Brasil é zero, com raras exceções. Segundo porque as empresas que poderiam patrocinar projetos com características tão definidas como o Arte Ciência no Palco, e ai eu falo de empresas públicas, não têm sensibilidade nenhuma por nada que não seja eventos de massas, tanto faz se esportivos ou musicais. E quando se voltam para o teatro não é o teatro que lhes interessa, mas as celebridades televisivas que eventualmente fazem teatro, algumas com mais ou menos talento, com melhores ou piores intenções ou ambições artísticas. A sorte do nosso projeto é ter encontrado mais do que patrocinadores, parceiros. Pessoas e empresas que se interessam pelo projeto e ajudam a viabilizá-lo. Nesses anos tivemos o apoio da Interprint, do Etapa Ensino e Cultura (que continua nosso parceiro), uma entidade educacional, e a Amana-Key Desenvolvimento & Educação, que tornou possível a montagem de “Copenhagen” e ainda hoje acompanha o projeto com carinho e atenção. Vale dizer que nenhuma dessas empresas recorreu a nenhuma lei de incentivo federal ou municipal para dar seu apoio ao Arte Ciência no Palco. Elas nos apoiaram por acreditar no nosso trabalho, o que aumenta a nossa responsabilidade. Elas são o modelo de patrocínio que queremos para o projeto, que sejam parceiros mais que meros patrocinadores que investem sem saber no que estão investindo.

HdC – Por que divulgar ciência no teatro?

OSWALDO MENDES – Eu respondo com outra pergunta: por que não? Quando digo que fazemos teatro e não divulgação científica é porque somos apenas e tão somente artistas de teatro. Queremos fazer sempre e melhor o que nos dedicamos a fazer, que é teatro. Mas, embora não seja esse o objetivo do grupo Arte Ciência no Palco, estamos convencidos de que é possível – pelo teatro – não só fazer o que se convencionou chamar de divulgação cientifica, mas ajudar as pessoas a pensar sobre o mundo em que vivem, a fazer do conhecimento uma deliciosa aventura e uma possibilidade de tornar, como dizia Brecht, mais suave o fardo da existência humana. No fundo é este o objetivo maior da Arte e da Ciência: fazer a vida melhor.

Caso queira conhecer mais o grupo é só visitar o site www.arteeciencianopalco.com.br, e há também alguns vídeos do grupo www.youtube.com.br/nucleoacp


* NATURE Vol 459. p 512. 28 May 2009

Agradecimentos: as autoras do Blog (Ana e Alcione), do Oswaldo Mendes e Adriana Carui que colaboraram para que a entrevista acontecesse.