Apensar de não ser completamente dentro do tema do Blog, julguei interessante ressaltar que hoje fazem 15 anos que vivemos um Brasil sem Mário Quintana. E o que tem isso a ver com um Blog de História da Ciência?
Sempre é bom lembrar que a Ciência pode ser “feita” em laboratórios, mas ganha o mundo com sua divulgação e com seu encontro com o cotidiano! Mário Quintana é desses poetas que pode ser chamado, como diria Aldous Huxley em seu livro Situação Humana, de pontifex, ou construtor de pontes. Para Huxley, tão importante quanto produzir ciência era divulgá-la, criar pontes com a vida ordinária, a vida cotidiana, para o autor o pontifex era aquele que criava estas pontes entre laboratórios e a rua, a avenida, nossas casas, nossa vida, mas com arte! Não basta divulgar, é necessário arte para isso!
Mário Quintana possui alguns poemas vinculados ao tema da Ciência e da Biologia, bem humorados, fazem troça da prática científica, sem desmerecê-la, e mostram seu vínculo com o significado e a cultura, apresentam a ciência como produto da sociedade humana. Além disso, se Ciência é uma decorrência da nossa capacidade de pensar, qual o motivo de não vincular isso à poesia, quando esta nos põe a refletir sobre o que está a nossa volta? Hoje, após 15 anos de sua partida, é dia de lembrar desse grande poeta brasileiro e de sua contribuição para nossa cultura – brasileira e, porque não, científica!!!
Assim, deixo minha homenagem ao poeta gaúcho, com o poema abaixo, em que Quintana, ao falar da incompletude da poesia me faz pensar no que é fazer ciência, e sua impossibilidade de estar, um dia, pronta e acabada, responder todas as perguntas…
Aproximações
Todo poema é uma aproximação. A sua incompletude é
que o aproxima da inquietação do leitor. Este não quer que lhe
provem coisa alguma. Está farto de soluções. Eu, por mim, lhe
aumentaria as interrogações. Vocês já repararam no olhar de
uma criança quando interroga? A vida, a irrequieta inteligência
que ele tem? Pois bem, você lhe dá uma resposta instantânea,
definitiva, única — e verá pelos olhos dela que baixou vários
risquinhos na sua consideração.
(Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo, 1979, p. 48)
3 comentários:
A casa de cultura dele em Porto Alegre é show!
Ele merece este post!
;-)
é sim, linda! E cheia de 'coisas' legais para visitar!!!
abç
Excelente texto! Creio que a ciência é uma arte também, assim como uma boa poesia.
Tudo isso faz parte do conhecimento humano. A forma de se expressar do homem, artisticamente falando, está intimamente ligada aos andamentos sócio-político-científicos de seu período. É só olhar um quadro dos idos de 1700 e outro de meados de 1900 pra ver a diferença. O bucolismo deixa seu lugar pro calor e movimento, vinculados ao que passava à sociedade da época.
Multidisciplinaridade, ao meu ver é o caminho ideal para entender a história do conhecimento humano. Desde artes às ciências...
Postar um comentário