quinta-feira, 26 de março de 2009

Com quantas Ervilhas se faz uma Teoria?

Bom , com o título na forma interrogativa, falando de ervilhas e de teoria me vem na mente um grande homem que teve contribuição significativa para os estudos em biologia.
Sim caro leitor! Falo de... Charles Darwin (Rá!).

Na verdade a homenagem de hoje não é nem pra Darwin e nem p/ Mendel (aquele que lhe veio à mente ao ler o título do post), hoje a homenagem é para as ervilhas, e vou logo justificar:


A homenagem vai para as ervilhas (Pisum sativum) porque elas foram um importante instrumento de trabalho que serviu de base para todo o conhecimento de genética que há hoje. Ela passou pelas mãos de pelo menos 2 grandes nomes da ciência.



Em 1866, Darwin enviou uma carta a Wallace com os dizeres:

My dear Wallace

After I had despatched my last note, the simple explanation which you give had occurred to me, & seems satisfactory.

I do not think you understand what I mean by the non-blending of certain varieties. It does not refer to fertility; an instance will explain; I crossed the Painted Lady & Purple sweet-peas, which are very differently coloured vars, & got, even out of the same pod, both varieties perfect but none intermediate.

Something of this kind I sh. think must occur at first with your butterflies & the 3 forms of Lythrum; tho' these cases are in appearance so wonderful, I do not know that they are really more so than every female in the world producing distinct male & female offspring.

I am heartily glad that you mean to go on preparing your journal

Believe me yours | very sincerely | Ch. Darwin”

Ele realmente estava falando das ervilhas! Ele realizou experimentos cruzando-as entre si, mas não chegou às mesmas conclusões que Mendel. E sabe porquê? Um detalhe chamado Estatística. O monge teve um rigor científico daqueles que hoje muito se menciona e pouco se pratica. Quer uma amostra do que ele fez? Então vamos aos fatos:

Quando surgiu a idéia de efetuar o cruzamento entre plantas ele deveria eliminar algumas variáveis, mas imagine o que é trabalhar com organismos em um ambiente - no caso o jardim do mosteiro - em que não se tem total controle destas variáveis. A escolha das ervilhas deu-se principalmente por elas:

- apresentarem características distintas e serem facilmente reunidas em grupos bem definidos;
- se reproduzirem com grande rapidez e deixarem grande quantidade de descendentes.

Sem contar que na época a Morávia (região em que ele realizara os experimentos) era uma região economicamente ativa graças ao bom desenvolvimento da horticultura. E soma-se a isto o fato de que ele era filho de camponeses e foi iniciado cedo nas artes da agricultura.


O primeiro grande feito de Mendel foi fazer a triagem do material para encontrar as linhagens o mais próximas o possível do que ele consideraria pura , ficou 2 anos realizando ensaios para obter as linhagens desejadas.

A segunda parte do trabalho foi mais árdua: realizar o cruzamento entre as ervilhas.

Foram cerca de 10.000 espécimes!!! Não foram 100 nem 1000, foram 10 mil! E cerca de 300 mil sementes. E assim ele ficou cerca de 10 anos trabalhando com as mesmas e encontrou caracteres que chamara de dominantes e recessivos e também as proporções 3:1 e 1:2:1 (ou 2:1:1 como ele mesmo menciona), ah! E no artigo sobre hibridização das plantas ele citava os famosos Aa e Bb que são exaustivamente trabalhados nas aulas do ensino médio.



Hoje fico imaginando (e suponho não ser o único) o que teria ocorrido se Darwin tivesse conhecimento dos trabalhos de Mendel. Depois de ler o texto extremamente abrangente de Leite, Ferrari e Delizoicov (2001) - postado no blog do Rubens Antônio - percebi, numa perspectiva histórica e social, que o rumo da ciência poderia ter sido o mesmo, sem grandes alterações.


[Referências nos hiperlinks e no livro "Memória Hoje - fatos que mudaram a nossa forma de ver a natureza." Vol 1 - Ciências Biológicas e Ambientais - Instituto Ciência Hoje e FAPERJ]

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado, bom trabalho! Este foi o material que eu tinha que ter.