

Pois bem, no ano de 2010 comemoram-se os 350 anos da Royal Society de Londres e pra celebrar a instituição disponibilizou ao público o site com uma linha do tempo interativa o Trailblazing.
O site é fantástico, há nele 60 artigos das diversas áreas da ciência disponíveis para leitura, artigos de grande impacto na sociedade como um todo.
Não vou me estender muito aqui porque não quero que você perca o seu tempo lendo meus elogios à página, mas que o aproveite lendo. Depois volte aqui e comente e se precisar de algum auxílio pode entrar em contato, pois nestas férias tentaremos disponibilizar uma resenha (em português) de cada um dos artigos.
Dica do Enio Yoshinori.
Figuras retiradas dos artigos no site Trailblazing (http://trailblazing.royalsociety.org/).
Recebi hoje a notícia de um evento que tem tudo para ser interessantíssimo… Além do tema ser de uma relevância ímpar para os Estudos da Ciência, é em Buenos Aires! O que sempre é um prazer reviver, reconhecer, reencontrar…
Abaixo as informações do evento:
Datas: de 16 a 19 de julho de 2010]
Tema do Evento: Ciência e Tecnologia para a Inclusão social na América Latina
Inscrição de Resumos até 27 de fevereiro de 2010 (tem tempo!!!), nos idiomas Português, Inglês, Espanhol e Francês.
Os resumos aceitos poderão enviar o trabalho completo até 15 de junho de 2010.
Temas para submissão de trabalhos:
1.Desafíos e historia de las políticas de ciencia y tecnología en los paises de Iberoamérica
2.Instituciones, disciplinas y campos de la ciencia y la tecnología
3.Tecnología, Innovación y Sociedad
4.Procesos de producción y uso del conocimiento científico y tecnológico
5.Participación de los públicos, comunicación y democratización
6.Los riesgos de la ciencia y la tecnología
7.Debates teóricos y metodológicos en el estudio social de la ciencia y la tecnología
8.Dimensiones internacionales de la ciencia y la tecnología
9.Educación CTS y Educación Superior
10.Las tecnociencias emergentes
Mais informações no site do evento e na primeira convocatória para submissão do trabalho.
Continuando a discussão traçada na semana anterior, hoje falarei de uma das grandes teorizações que culminaram no entendimento de que era necessário selecionar e/ou modificar a espécie humana, a fim de melhorá-la… Segue, abaixo, mais um pouquinho desta história…
A partir do final do século XVII, mas principalmente nos dois séculos seguintes, temos um acontecimento que parece novo para o mundo ocidental (em especial em localidades como Inglaterra, Alemanha, Itália, França, etc.) que é a emergência da população. Até meados do século XVII ainda víamos a constituição dos estados muito próximas da noção feudal, o povo que morava na terra não era tido como uma população, mas massa de gente que fazia parte da propriedade daquele feudo ou estado. Com a constituição da população, nos séculos seguintes, e quando digo população isso está, em certa medida, associado com a urbanização na Europa, vemos aparecer um conjunto de mecanismos, estratégias para controlar e manter a população. Esta não é mais propriedade de um estado, mas é sua razão de ser. O estado só consegue se estabelecer como Nação se existe um povo que se sente parte, sente-se conjunto que faz e produz para um bem comum e não mais para um rei, apenas. A noção de população só é possível de se ter a partir do século XIX e está relacionada a uma série de campos científicos emergentes, como a estatística e as ciências atuariais, os estudos demográficos, antropológicos e sociológicos, dentre outros (Foucault, 2002; Sennet, 2003).
Na biologia duas grandes teorias sobressaem-se às demais, no que diz respeito aos seres vivos, especificamente, mas também a um conjunto de indivíduos que vivem em conjunto. A primeira (a que falaremos brevemente hoje) é a ideia defendida por Jean-Baptiste Lamarck, em seu livro Philosophie Zoologique*, de que as características adquiridas ao longo da vida poderiam ser passadas aos descendentes, caso fossem comuns a ambos os progenitores. Nessa perspectiva evolutiva, a modificação partia do indivíduo, para melhor viver em seu ambiente.
Essas discussões, empreendidas por Lamarck, em especial na França, farão parte da constituição, quando aplicadas, ou estendidas aos seres humanos, do movimento higienista, que toma como medida preventiva para a degenerescência da espécie humana a educação e a modificação dos hábitos sociais, para transformar sua vida, melhorando as relações de saúde e de convivência social (Diwan, 2007). Tal movimento articula-se com as noções correntes de Saúde Pública e Medicina Sanitarista, que estão emergindo como grandes áreas da Medicina, nesse fim de século XVIII e início do século XIX, trata-se, assim, de uma tecnologia que procura controlar e modificar a probabilidade daqueles eventos que, individualmente são impossíveis de serem mensurados, mas populacionalmente são calculáveis, como o risco de mortes, acidentes, adoecimentos, etc. (Foucault, 2002, p. 297).
A segunda grande teoria, é claro, é a evolução pela Seleção Natural. Mas isso é o tema do próximo post!
* Observação fora da discussão do post, mas não do blog: Não sei quantas pessoas já tiveram o prazer de ler este livro, pelo menos os capítulos dedicados às explicações evolutivas. Embora seja entendido como “errado” atualmente (e há muito tempo), este livro é interessantíssimo, com uma escrita simples, clara e objetiva. Ao ler os três capítulos que falam de evolução, vemos que Lamarck é muito mais do que o exemplo dos pescoços da girafa e das pernas das aves pernaltas. Suas deduções podem continuar não sendo aceitas, mas seu debate é muito mais do que o tornaram… Voltando ao livro, ele foi publicado originalmente em 1809, completando, portanto, 200 anos também! Embora menos valorizado do que o livro de Darwin, (e que o próprio Darwin) e obviamente ofuscado pelas comemorações destinadas ao grande cientista que explicou a evolução neste ano, não se pode ignorar a contribuição de Lamarck à Zoologia, tampouco à Biologia… Sempre é bom lembrar que Lamarck foi quem nomeou nossa estimada Ciência! Seu livro comemora 200 anos e, por isso, fiz esta enooorme observação sobre ele. Foi uma das grandes “descobertas” de minha formação: ler Philosophie Zoologique em uma disciplina de História e Epistemologia da Evolução. Aliás, foi uma grata alegria a todos meus colegas, pelo que me lembro.
Observação 2: Tem vários E-livros do Lamarck no Google Livros. Não consegui acessar o Domínio público hoje, o site está com pequenos problemas aparentemente. Mas acredito que também deva ter algo por lá!
Observação 3: a foto do livro foi retirada do site: http://www.decitre.fr/livres/Philosophie-zoologique-ou-Exposition-des-considerations-relatives-a-l-histoire-naturelle-des-animaux.aspx/9782080707079.
Recentemente fui convidada por um colega da Universidade em que trabalho, a discutir sobre as relações entre Eugenia, Ciências Biológicas, História e outras coisas mais que eu quisesse falar, relacionado ao documentário “Arquitetura da Destruição”, dirigido por Peter Cohen. O evento em que eu falei vincula-se a um projeto de Extensão voltado à comunidade universitária. Eu, particularmente, adorei o convite, claro! Pois o tema aproxima-se de minha pesquisa de doutorado e sempre é um prazer discutir esses temas que me levam pelos caminhos da pesquisa…
Resolvi adaptar parte do que eu levei ao debate, que foi extremamente produtivo a meu ver, para o nosso blog, afinal, falei de história da ciência o tempo todo, praticamente! O texto completo terá 5 partes, para não ficar muito cansativo de ler… Neste primeiro post apresentarei o documentário e algumas discussões que nos posts seguintes serão aprofundados, ok?
Este documentário tem como grande diferencial, em relação a inúmeras outras produções e estudos no campo da eugenia e da história da segunda guerra, apresentar o vínculo das ações militares e da política com a estética e a arte.
No filme há a descrição de que as ideias de busca pela perfeição são percebidas através da arte. É com a arte que Hitler representa o que é belo, bonito, forte, desejável e aquilo que deve ser colocado à margem. Para Hitler, a arte, assim como a espécie humana, está se deteriorando. Ou melhor, a arte moderna esta que estuda formas, cores e a relação entre luz e sombra, promovendo percepções de diferentes aspectos ou configurações humanas representa e idealiza o quanto nós estamos definhando, degenerando. A partir dessas noções de arte, defendidas por Hitler, saúde e beleza se mesclam, tornando evidente o modelo de ser humano ideal.
Existe uma frase que mostra alguns pontos de partida para ideias como essas, da seleção e promoção da vida com base em ideais científicos e estéticos, da manutenção da vida em uma nação. É sobre esses pontos históricos que pretendo discorrer, brevemente, nos posts que virão nas próximas semanas, apresentando também alguns acontecimentos ligados a esses ideais eugênicos, presentes ainda hoje em nossa sociedade.
A frase que me refiro é uma citação de Hitler (ao menos supostamente), "se criarmos a síntese das três - Atenas, Esparta e Roma - nossa nação jamais perecerá".
É de conhecimento comum que na Grécia e Roma Antigas selecionavam aqueles que nasciam por aspectos físicos de estética e saúde (deformidades faciais e/ou corporais). Não se almejava, naquelas culturas e em tantas outras em que a prática de infanticídio era/é comum, o investimento em sujeitos fracos ou feios. A incumbência de criar crianças que não teriam a beleza que nos aproxima do Olimpo, a força dos deuses ou que nos faz vencer a guerra era pesada demais para se manter na sociedade. Assim, o infanticídio não era uma prática, na Antiguidade, tida como assassinato, mas quesito básico para se manter a civilização Grega e Romana, tal qual havia sido planejada.
A grande diferença entre as culturas ditas "da antiguidade" e a chamada Eugenia, que teve seu início no século XIX e que também pregava a seleção de pessoas para uma sociedade planejada e estética e intelectualmente aceitável, não foi no ato de seleção, mas em como se ancoram os argumentos para tanto.
Saltando alguns milhares de anos, ignorando completamente a Idade Média, partindo para a civilização das Luzes, temos uma volta ao planejamento e ordenamento da sociedade, um tempo de organização e produção do que é e como se faz ciência e sociedade, que possibilitou entendermos e estudarmos o mundo, como o fazemos hoje. A biologia teve um papel importantíssimo na emergência dos princípios eugênicos. Como dizia antes, a diferença em relação à antiguidade não foi no ato em si, mas em como se articulou e aceitou a proposta de seleção de pessoas nesses dois períodos históricos distintos. A eugenia, e outro movimento que teve sua emergência muito próxima em termos de tempo, o higienismo, teve como grande mote o discurso científico. Não era aceito somente selecionar, mas a seleção acontecia fundamentada em duas grandes teorizações do século XIX. Ambas fazendo aniversários centenários neste ano de 2009 (Aliás, o ano de 2009 é um ano bem interessante, se formos pensar em grandes datas históricas!)
E então? O tema interessou? Em breve, novos posts sobre o assunto: aguarde!!!
Obs: No Brasil, os direitos e a distribuição do filme é feita pela Versátil Home Video e Mostra Internacional de Cinema, tendo sido relançado em 2006. Atualmente é relativamente simples encontrá-lo em livrarias, ou mesmo em lojas de departamento, com preço bem acessível (quando escarafunchando promoções…).
A maior influência que o Brasil teve para a criação deste centro de pesquisas foi – como muita coisa da época – da França, onde, por Jean Pérrin foi criado o Centre National de la Recherche Cientifique (CNRS). O cientista brasileiro Carlos Chagas Filho, por intermédio de outros pesquisadores teve uma reunião com Jean Pérrin onde este lhe explicou o que era o CNRS e como havia sido criado. Então quando Carlos Chagas Filho retornou ao Brasil entregou todo o material ao então ministro da educação e saúde pública Gustavo Capanema, que “mostrou-se entusiasmado com a idéia e levou o material ao presidente Getúlio Vargas” (Carlos Chagas Filho).
No entanto ainda faltava alguém que desse mais peso ao movimento, uma pessoa com personalidade e influência, e foi daí que surgiu a pessoa do Almirante Álvaro Alberto Motta e Silva que havia retornado dos EUA, onde presidiu a primeira conferência sobre Energia Nuclear. Depois de anos de discussão, elaboração do projeto dentre muitos outros problemas mais políticos do que científicos, por meio da ABC (Academia Brasileira de Ciências) e do empenho de seu então presidente o Almirante, em 15 de janeiro de 1951 foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), mais tarde transformado em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (lei 6129, de 6/11/1974).
Mas qual a diferença entre um e outro? E porque a sigla continua sendo a mesma?
Necessariamente foi a política adotada em decorrência dos bastantes ajustes como criação e incorporação de institutos. Acompanhemos seu desenvolvimento em alguns tópicos - deixo claro que podem surgir muitas siglas. Muitas delas são conhecidas do público leitor, outras nem tanto, mas se há sigla há um nome por trás dela, então vamos registrar os dois:
Na década de 20 a ABC (Academia Brasileira de Ciências) propôs a criação de um Conselho Nacional de Pesquisa;
1936: Getúlio Vargas propôs a criação de um conselho de pesquisas experimentais para atividades agrícolas... Não foi pra frente;
1946: o almirante Álvaro Alberto sugeriu que a ABC intercedesse junto ao governo para a criação do Conselho Nacional de Pesquisa;
1948: o deputado José Pedroso Jr apresentou um projeto para a criação do conselho, o mesmo não foi aceito;
1949: uma comissão (de cientistas) foi designada para escrever um projeto de lei instituindo um Conselho Nacional de Pesquisas;
1951: no dia 15 de janeiro o presidente Dutra assina a lei de criação do CNPq;
1952: Criação do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e INPA (Instituto de Pesquisas da Amazônia);
1954: Criação do IBBD (Instituto de Bibliografia e Documentação), mais tarde transformado em IBCIT (Instituo Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia);
1955: Incorporação do MPEG (Museu Paraense Emílio Goeldi);
1957: Criação do IPR (Instituto de Pesquisas Rodoviárias), hoje pertencente ao DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes);
1961: Criação do CNAE (Comissão Nacional de Atividades Espaciais), mais tarde transformado em INPE (Instituto nacional de Pesquisas Espaciais);
Quanto Instituto (e sigla)!!! Mas isso talvez seja para percebermos a importância de se ter um Conselho de Pesquisas no país.
Ainda entre as décadas de 70 e 90 o CNPq criou e / ou incorporou vários outros institutos e centros de pesquisa:
- Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF);
- Observatório Nacional (ON);
- Centro de Tecnologia Mineral (Cetem);
- Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC);
- Museu de Astronomia e Ciência Afins (MAST);
- Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS); Durante 10 anos (1987-1997), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o CNPq investiram na implantação do LNLS;
- Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA);
- Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).
“Promover o desenvolvimento científico e tecnológico e executar pesquisas necessárias ao progresso social, econômico e cultural do país”.
Uma opção legal p/ quem deseja saber um pouco mais sobre o CNPq é ver a entrevista que o Eduardo Bessa do ScienceBlogs Brasil fez com a vice-presidente da instituição.
http://scienceblogs.com.br/bessa/2009/10/eduardo_bessa_entrevista_wrana_1.php
Valeu Bessa!!!
Texto Extraído do Centro de Memória do CNPq e do livro “Um Aprendiz de Ciência” de Carlos Chagas Filho;
Há alguns dias percebi que meia hora de internet, quando bem utilizada, é surpreendente, descobrimos coisas fantásticas e ainda podemos compartilhar com o público leitor. Pois bem, encontrei uma matéira na Nature* que falava sobre a comemoração do Ano Internacional da Astronomia, uma peça de teatro que trata da relação que existia entre Galileu e o Papa Urbano VIII, achei fantástica a idéia de um grupo de teatro abordar a ciência, é um modo diferente de se conhecer a mesma, sem contar que tudo que envolve teatro é demais. O lado ruim da notícia é que a peça está em cartaz nos EUA, então, num diálogo com os colegas de faculdade alguém me disse: “pena que no Brasil não temos dessas coisas”. Foi aí que lembrei - o que nunca deveria ter esquecido – do Grupo de Teatro Arte e Ciência no Palco. Presenciei pelo menos 3 espetáculos deles e repeti a dose com a peça “After Darwin”.
Os atores são sensacionais, as peças muito instigantes e divertidas e sempre trazendo muita informação e / ou conhecimento.
Foi então que a Ana, a Alcione e este que vos escreve decidiram entrevistar o grupo ACP e quem respondeu pelo grupo foi Oswaldo Mendes, um dos integrantes do mesmo. Confira aí:
HdC - Quando surgiu o grupo?
OSWALDO MENDES – A semente do grupo Arte Ciência no Palco é o espetáculo “Einstein”, de 1998, que até hoje o ator Carlos Palma interpreta pelo Brasil afora. Ator formado pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, Carlos Palma encontrou em “Einstein” o caminho para a sua volta, em definitivo e com dedicação total, ao teatro. Um ano depois da estréia em São Paulo, o espetáculo fez uma breve temporada na Casa da Ciência, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O encontro com o físico Ildeu de Castro foi o empurrão que faltava para o nascimento de um grupo de teatro voltado para a montagem de peças que tivessem as chamadas ciências naturais como tema. Foi de Ildeu a sugestão para Palma e Adriana Caruí (Produtora do ACP) irem atrás de uma peça que acabara de estrear em Londres, com grande sucesso: “Copenhagen”, de Michael Frayn. Já com o objetivo de tornar realidade o Arte Ciência no Palco, eles compraram os direitos da peça para o Brasil, em 2000. Foi ai que eu, também ator formado pela mesma Escola de Arte Dramática e durante muitos anos dividido entre o jornalismo e o teatro, conheci o então recém nascido grupo. Convidado para interpretar Niels Bohr, primeiro eu me assustei, com a complexidade da peça e do personagem. Mas movido pela intuição – e como dizem físicos do porte de Einstein e Mário Schenberg a intuição às vezes é mais importante que o raciocínio – eu aceitei o desafio de “Copenhagen”. E estou no Arte Ciência no Palco desde 2001. Vale lembrar que entre “Einstein” e “Copenhagen”, Palma e Adriana fizeram também o primeiro espetáculo infantil do grupo, “Da Vinci, Pintando o Sete”. Depois, mais cinco espetáculos, um por ano: “Perdida, uma Comédia Quântica” de Jose Sanchis Sinisterra, “Quebrando Códigos” do inglês Hugh Witemore sobre o matemático Alan Turing, “E agora, sr. Feynman?” de Peter Parnell sobre o físico Richard Feynman e o infantil “20.000 Léguas Submarinas... Ufa!” e “A Dança do Universo” para comemorar o Ano Mundial da Física, pelos 100 Anos da Relatividade, e o centenário da morte de Júlio Verne.
HdC – Qual o objetivo do projeto?
OSWALDO MENDES – O nosso objetivo é fazer teatro. Ponto final. A opção por textos com temas, digamos, científicos tem a ver as nossas necessidades de artistas e de cidadãos deste mundo em que as questões da ciência e da tecnologia ganham importância e urgência cada vez mais graves... Então nós acreditamos que mergulhar na vida e nas idéias desses personagens é uma maneira de trazer estas questões para o cotidiano das pessoas. São personagens que nos ajudam não só a entender o mundo em que vivemos, mas principalmente a pensar sobre ele, refletir sobre as questões que envolvem o conhecimento humano.
HdC – Qual o público-alvo?
OSWALDO MENDES – Por ambição artística nós diríamos que o público-alvo é todo o público, todas as pessoas que compartilham as nossas inquietações com o destino do ser humano neste planeta, neste universo em que vivemos. São as pessoas que buscam no teatro esse local de reflexão a que Brecht se referia. Ou pessoas que, como diz Michael Frayn, autor de “Copenhagen”, que gostem de ser desafiadas em seus corações e, principalmente, em suas mentes. E ai não há distinção etária nem de graus de instrução ou de formação. Tomando o nosso espetáculo “Copenhagen” como referência, ele já foi apresentado com igual êxito para platéias da comunidade cientifica e para alunos da rede pública de segundo grau.
HdC – Fale um pouco sobre “A Dança do Universo”.
OSWALDO MENDES – “A Dança do Universo” nasceu inspirada pelo livro do físico Marcelo Gleiser. Foi só inspiração porque o livro de Gleiser tem um caráter didático, seria impossível pensar em uma adaptação. Mas ele me deu o mote e a direção para que eu mergulhasse nessa maravilhosa aventura humana, o longo caminho da ignorância até o conhecimento, e o embate permanente entre essas duas forças. Nesse mergulho eu me detive na vida e nas idéias de alguns personagens que nos ajudam a entender melhor o mundo em que vivemos. E usando o teatro, a música e o humor como ferramentas, baguncei um pouco a história, indo do brasileiro Mário Schenberg ao inglês Isaac Newton e criando cenas em que, por exemplo, coloco frente a frente Kepler e Galileu ou Charles Chaplin e Albert Einstein.
HdC – Em quais estados vocês se apresentaram?
OSWALDO MENDES – Além de várias cidades do interior de São Paulo estão no nosso roteiro desde o Rio Grande do Sul ao Acre, passando por Rio de Janeiro, Paraná, Brasília, Ceará, enfim, a agenda é muito variada, felizmente. O Arte Ciência no Palco tem, no momento, cinco peças em seu repertório, com as quais viaja atendendo a convites: “Einstein”, “After Darwin”, “Copenhagen”, “E agora, sr. Feynman?” e “A Dança do Universo”.
HdC – Vocês trabalham com textos próprios?
OSWALDO MENDES – Esta é uma preocupação permanente, porque tirando alguns clássicos sempre citados, como “A Vida de Galileu” de Brecht e “Os Físicos” de Dürrenmatt, não existem muitos textos de teatro que tratem das questões da ciência. Acho até que o sucesso mundial de “Copenhagen” tenha despertado nos autores a possibilidade de trabalhar esses temas. Foi essa necessidade de textos próprios que nos levou a escrever “A Dança do Universo”, “20.000 Léguas Submarinas... Ufa!” e, anteriormente, “Da Vinci, Pintando o Sete”. Mas estamos vendo uma tendência crescente no mundo todo por uma dramaturgia voltada para esses temas.
HdC – É fácil conseguir patrocínio?
OSWALDO MENDES – A pergunta seria engraçada se não fosse trágica. Não, não é fácil. Primeiro porque a cultura do patrocínio ao teatro no Brasil é zero, com raras exceções. Segundo porque as empresas que poderiam patrocinar projetos com características tão definidas como o Arte Ciência no Palco, e ai eu falo de empresas públicas, não têm sensibilidade nenhuma por nada que não seja eventos de massas, tanto faz se esportivos ou musicais. E quando se voltam para o teatro não é o teatro que lhes interessa, mas as celebridades televisivas que eventualmente fazem teatro, algumas com mais ou menos talento, com melhores ou piores intenções ou ambições artísticas. A sorte do nosso projeto é ter encontrado mais do que patrocinadores, parceiros. Pessoas e empresas que se interessam pelo projeto e ajudam a viabilizá-lo. Nesses anos tivemos o apoio da Interprint, do Etapa Ensino e Cultura (que continua nosso parceiro), uma entidade educacional, e a Amana-Key Desenvolvimento & Educação, que tornou possível a montagem de “Copenhagen” e ainda hoje acompanha o projeto com carinho e atenção. Vale dizer que nenhuma dessas empresas recorreu a nenhuma lei de incentivo federal ou municipal para dar seu apoio ao Arte Ciência no Palco. Elas nos apoiaram por acreditar no nosso trabalho, o que aumenta a nossa responsabilidade. Elas são o modelo de patrocínio que queremos para o projeto, que sejam parceiros mais que meros patrocinadores que investem sem saber no que estão investindo.
HdC – Por que divulgar ciência no teatro?
OSWALDO MENDES – Eu respondo com outra pergunta: por que não? Quando digo que fazemos teatro e não divulgação científica é porque somos apenas e tão somente artistas de teatro. Queremos fazer sempre e melhor o que nos dedicamos a fazer, que é teatro. Mas, embora não seja esse o objetivo do grupo Arte Ciência no Palco, estamos convencidos de que é possível – pelo teatro – não só fazer o que se convencionou chamar de divulgação cientifica, mas ajudar as pessoas a pensar sobre o mundo em que vivem, a fazer do conhecimento uma deliciosa aventura e uma possibilidade de tornar, como dizia Brecht, mais suave o fardo da existência humana. No fundo é este o objetivo maior da Arte e da Ciência: fazer a vida melhor.
Caso queira conhecer mais o grupo é só visitar o site www.arteeciencianopalco.com.br, e há também alguns vídeos do grupo www.youtube.com.br/nucleoacp
* NATURE Vol 459. p 512. 28 May 2009
Agradecimentos: as autoras do Blog (Ana e Alcione), do Oswaldo Mendes e Adriana Carui que colaboraram para que a entrevista acontecesse.
Não é história da ciência…, Ainda (espero!). Estamos organizando, lá na universidade onde trabalho*, o I Ciclo de Estudos de Biologia de Tangará da Serra. Apesar de ser o primeiro (de muitos, espero), vai ser bem interessante, acontecerá na semana de 31 de agosto à 04 de setembro e terá a participação de vários pesquisadores de várias universidades do país! Quer saber mais? Acesse: http://biota.nectar.bio.br
Em breve as inscrições estarão abertas!
* Universidade do Estado de Mato Grosso – Campus Tangará da Serra
O médico baiano Augusto Pirajá da Silva (1873-1961) descreveu o S. mansoni a partir da análise de fezes de pacientes do Hospital Santa Isabel (BA). A descoberta deu-se em meados de 1908 e diferenciava o S .mansoni de outra espécie ocorrente no Egito, o S. haematobium, uma das grandes diferenças entre os dois era que os ovos do parasito egípcio eram liberados na urina enquanto os do parasito brasileiro eram liberados nas fezes.
E de onde surgiu o epíteto específico (que dá o nome à espécie)? Pois bem, o nome veio de uma homenagem e da confirmação da teoria do médico escocês Sir Patrick Manson (1844-1922), o então considerado “pai da medicina tropical”.
Apesar desta descoberta Pirajá da Silva recebeu críticas severas da comunidade científica internacional da época, sobretudo de parasitologistas renomados do exterior, mas isso não o abalou, na luta pela aceitação de seu trabalho ele viajou até a Europa para provar sua tese diante da comunidade científica. Com isso ele teve a publicação de seu artigo em revistas européias especializadas na área.
Mais do que suas descobertas foi a sua luta para que as pesquisas realizadas no Brasil tivessem - quando merecido – seu reconhecimento no primeiro mundo. Prova disso foi a indicação de Carlos Chagas para o prêmio Nobel de medicina em 1913, mas infelizmente ele não levou.
Além da descoberta do parasito, Pirajá da Silva teve contribuição significativa ao descobrir a larva do mesmo (a cercárica) e o hospedeiro intermediário da doença, um caramujo. Uma pena que seu trabalho seja pouco reconhecido quando se fala da doença e até mesmo na própria história da ciência.
Fonte: Livro Memória Hoje vol. 1 do Instituto Ciência Hoje e da FAPERJ.
Apensar de não ser completamente dentro do tema do Blog, julguei interessante ressaltar que hoje fazem 15 anos que vivemos um Brasil sem Mário Quintana. E o que tem isso a ver com um Blog de História da Ciência?
Sempre é bom lembrar que a Ciência pode ser “feita” em laboratórios, mas ganha o mundo com sua divulgação e com seu encontro com o cotidiano! Mário Quintana é desses poetas que pode ser chamado, como diria Aldous Huxley em seu livro Situação Humana, de pontifex, ou construtor de pontes. Para Huxley, tão importante quanto produzir ciência era divulgá-la, criar pontes com a vida ordinária, a vida cotidiana, para o autor o pontifex era aquele que criava estas pontes entre laboratórios e a rua, a avenida, nossas casas, nossa vida, mas com arte! Não basta divulgar, é necessário arte para isso!
Mário Quintana possui alguns poemas vinculados ao tema da Ciência e da Biologia, bem humorados, fazem troça da prática científica, sem desmerecê-la, e mostram seu vínculo com o significado e a cultura, apresentam a ciência como produto da sociedade humana. Além disso, se Ciência é uma decorrência da nossa capacidade de pensar, qual o motivo de não vincular isso à poesia, quando esta nos põe a refletir sobre o que está a nossa volta? Hoje, após 15 anos de sua partida, é dia de lembrar desse grande poeta brasileiro e de sua contribuição para nossa cultura – brasileira e, porque não, científica!!!
Assim, deixo minha homenagem ao poeta gaúcho, com o poema abaixo, em que Quintana, ao falar da incompletude da poesia me faz pensar no que é fazer ciência, e sua impossibilidade de estar, um dia, pronta e acabada, responder todas as perguntas…
Aproximações
Todo poema é uma aproximação. A sua incompletude é
que o aproxima da inquietação do leitor. Este não quer que lhe
provem coisa alguma. Está farto de soluções. Eu, por mim, lhe
aumentaria as interrogações. Vocês já repararam no olhar de
uma criança quando interroga? A vida, a irrequieta inteligência
que ele tem? Pois bem, você lhe dá uma resposta instantânea,
definitiva, única — e verá pelos olhos dela que baixou vários
risquinhos na sua consideração.
(Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo, 1979, p. 48)
19 a 21 de agosto de 2009
Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo
Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB)
Confira no site a programação e outros eventos relacionados também.
[Figura: "Duria Antiquior - a more ancient Dorsetshire" (1830), aquarela do geólogo Henry Thomas de la Beche (1796-1855) representando a vida pré-histórica em Dorset, baseada em fósseis encontrados por Mary Anning. retirada da página do evento]